segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Teatróloga Nena Theóphilo no Massa e Cia

 “Eu tenho um livro de cabeceira que eu adoro! É do Augusto Boal, um grande dramaturgo que infelizmente já é faleci-do. E tem um trecho dele que diz mais ou menos que todos nós somos atores. A partir do momento em que a gente nasce, desde o momento em que a gente acorda todos os dias, até a hora em que a gente vai dormir. Nós estamos atuando em todas as horas do dia, estamos sempre em cena. E o teatro envolve todas as artes! Eu acredito também que ele seja o formador do ser humano. Quando eu tenho um projeto de peça, fazemos pesquisa sobre aquilo. No “Góthic”, por exemplo, os atores queriam saber sobre, porque para as pessoas o gótico é pejorativo! Então, fomos pesquisar, e vimos que existia um monte de coisas que envolvia aquele tema. Existia uma postura, uma arquitetura, uma literatura... E o teatro é isso, uma cultura geral! Ele é formador para sua educação como pessoa, para sua trajetória de vida... Você aprende a ceder, porque tem que entender os seus limites. Porque quando estamos em cena, existem os outros atores, você tem que aprender a respeitar o espaço, a hora da fala, os limites de cada um...                                                    NenaMassa&Cia - Nena, de onde vem a sua experiência teatral?
Nena - Minha maior experiência vem do GATIG, que é o Grupo de Artes e Teatro da Ilha do Governador. Fizemos várias peças no Rio, vários trabalhos. Tenho curso de direção; de escrita de peças. Porém acredito que não adianta fazer um monte de cursos e não gostar do que faz, porque vamos aprendendo é com o dia-a-dia. A cada peça é uma nova direção, um novo elenco, uma nova experiência que adquirimos. E aprendemos muito com os atores.
Massa&Cia - A prática teatral em São Fidélis é muito diferente da que você era habituada?
No GATIG tinhamos muito apoio, o ex deputado José Richard que é fidelense,  morador da Ilha do Governador e tinha um jornal, sempre apoiou o GATIG. Se tivesse na cidade de São Fidélis um apoio maior...!
Massa&Cia - Quantas peças já montou em São Fidélis?
Nena - “Loucolópolis”, escrita por mim, que foi apresentada no Cine Teatro e foi um sucesso absurdo, tivemos 1000 espectadores. Embora chovesse muito, tivemos que dobrar as sessões. E eu fiz uma promessa que a minha primeira peça seria beneficente. E foi, para a Apae, Pestallozzi e Lar dos velhos. Depois, nós fizemos “Ghótic”, que foi uma peça muito bonita, fizemos também Aposte o poste, e agora, nós estamos com outro projeto: Reunião de Fadas. É uma peça infantil, para o mês da criança, de autoria do GATIG, cujos direitos autorais nos foram gentilmente cedidos. E, se Deus quiser, se houver tempo, em dezembro a gente vai fazer também “Dim-dom”.
A proposta do GARTE era fazer uma peça por ano, mas, Chocolate sabe, o quanto a gente trabalha na elaboração de uma peça para uma temporada de três dias.
Massa&Cia - Quais os maiores empurrões para frente recebidos aqui?
Nena - O comércio. Que no início, com certeza, ficou um pouco com um pé atrás, mas,graças a Deus, o grupo trabalha com muito empenho. Eles são adolescentes responsáveis. Eu tenho que passar uma confiança para os pais, então, fico sempre atenta às notas da escola. Eu sempre digo a eles que primeiro o estudo. O GARTE é uma diversão com responsabilidade, e também, se nos propomos a fazer um trabalho, que ele seja mega bem feito, porque é o nosso nome que vai. Devemos isso ao público e também ao comerciante que acredita no nosso trabalho. Lembro-me que em “Loucolópolis”, chovia muito, mas a fila lá fora era enorme, tivemos que fazer duas sessões por dia. Então, Temos um espaço na biblioteca, mas conseguimos um na Associação Comercial para ensaiarmos nos dias de frio, de chuva... E como estamos agora num processo de marcação de cena, e lá tem sido um espaço muito útil.
Massa&Cia - Quantas pessoas no grupo?
Nena - Hoje aqui tem bastante gente do grupo, mas nós somos em mais ou menos 25.
Eu tenho atores maravilhosos!
Massa&Cia - Quais os maiores obstáculos?
Nena - Eu digo sempre a eles, quando estamos com um projeto que as duas respostas que nós vamos receber é sim e não. Então vamos nos preparar para as duas. Se for sim, ótimo, se for não, beleza. A gente vai correr atrás, vai tentar de novo... Mas o pensamento é sempre positivo!
Massa&Cia - Muitas histórias inusitadas de montagem?
Nena - Ah, muita coisa! Acontece muito assim, em ensaio, né? Eu fiz até, um making- off dos ensaios de um trabalho que a gente fez! Ficou bem legal!
Massa&Cia - Quantas pessoas já envolveu nessa ação?
Nena - Bastante! Acredito que umas 50 pessoas! Só que muitas foram embora por causa de outros projetos, né?... Faculdade, trabalho...
Massa&Cia - Destaques?
Nena - Não! Para mim todos eles sempre se destacam. Nós somos um grupo muito aberto, todos dão sua opinião! Agora, em “Reunião das Fadas”, por exemplo, como a gente vai trabalhar com criança, que é um público que é mais impaciente, o Juninho, que ficou com a parte da direção de arte,  vai colocar músicas antes do espetáculo para entretê-las; o Dirley Braga, que vai fazer a parte da edição, já que no Cine Teatro, vamos utilizar também o telão como recurso; a Camila Crespaumer fica com a parte da captação de recursos; a Milaine... Todo mundo faz uma coisinha!
Massa&Cia - Você, que além de diretora é atriz, tem muitos personagens engraçados, de trejeitos marcantes, pode falar um pouco deles.
Nena - Bom, em “Loucolópolis” eu fiz a Dona Noca. Foi muito engraçado!  Dona Noca era uma viúva cheia de trejeitos, que sustentava os três filhos vendendo toalhinha de prato. Batia no guarda, xingava a prefeita! Para compor a personagem, usei uma saia comprida da minha mãe, e a coloquei bem alta; para segurar essa saia, eu tinha que ficar com a barriga estufada. E ela usava também um lencinho branco na cabeça, uma pintura bem estranha no rosto; aonde ela ia, ia gritando, carregando aqueles filhotes dela... “Vamo embora filhotes, vamo embora...” Com aquela voz bem engraçada... (risos).
Massa&Cia - Se não aparece na televisão não é artista, então você tem que ir para o Rio ou para São Paulo, Pois ouvimos que só a arte praticada em seus domínios é importante. A Sala de Ensaio diz que a arte feita aqui também é im-portante. É por isso que estamos aqui: para dizer que a sua arte é impor-tante. Porém, será uma grande perda de tempo a Sala ficar dizendo isso sozinha. Você concorda que se esta cidade quiser pode escrever a própria história cultural?
Nena - Eu acredito muito nisso, Chocolate. Gosto muito de lidar com jovens: a cabeça, os projetos que eles têm para vida... É claro que existem adultos que não têm paciência para escutá-los: os sonhos, as angústias, o sofrer, a alegria... Porque isso tudo faz parte da vida. Eu acho que nós, adultos, temos essa obrigação de sentarmos para escutar esses jovens. Eu já fiz isso com o pessoal do grupo, como exercício, pedi para que cada um sentasse, e escrevesse o seu texto... Eles são capazes! São Fidélis tem essa capacidade, só não tem o apoio que deveria ter.
O meu sonho, é que um dia nós possamos ter uma casa cultural, um espaço para que eles desenvolvessem todas essas possibilidades de cultura; teatro, música, dança, poesia... Eles precisam disso! E acho que se a gente tivesse esse espaço aqui, muitos não estariam seguindo outros caminhos... Não aconteceria tanta coisa que a gente vê, e não gosta. E eu não gosto de tapar os olhos. Não acho bacana.
Massa&Cia - Considerações finais?
Nena - Quando cheguei a São Fidélis, até mesmo por ter vindo de uma cidade grande, eu dizia que eu não viveria aqui.  Hoje, vejo que tive de crescer, amadurecer pra reverter esse pensamento. Porque é lógico que vamos aprendendo. O que a gente viveu, aprendeu há cinco minutos, já conta como experiência! Então, eu tenho que agradecer a acolhida que tive. É uma cidade pequena, e a gente sabe que não tem essa cultura toda difundida como deveria ter, mas isso, também já envolve outras questões, como política, que é um assunto que eu não quero abordar agora, porque não cabe. A proposta aqui, é o que a gente faz, e de uma maneira bacana, limpa. E eu não me arrependo de um dia, ter pensado daquele jeito, porque tudo isso me fez dar essa volta por cima, e o sentimento que eu tenho hoje é de reconhecimento, de agradecimento aos fidelenses, ao grupo, aos comerciantes, à você Chocolate, pelo espaço, enfim, a todos aqueles que acreditaram no meu trabalho!
E aproveitando também essa oportunidade, gostaria de já deixar aqui o meu convite a todos: Não percam nos dias 8 e 9 de outubro, no Cine Teatro, “Reunião de Fadas”! Com certeza também vai ser muito bacana e vocês vão adorar!

Massa&Cia - Nesse momento entra em cena uma das integrantes do ‘Garte’.
Camila Crespaumer:- Como nós fizemos 6 anos de grupo, mas ainda não comemoramos, gostaria de falar que, em nosso aniversário, o maior presente é ter a Nena ao nosso lado, dando todo o seu apoio, ensinando, educando... Porque o teatro também nos educa, né? Então, fica aqui o nosso carinho!
Massa&Cia - Dizendo isso entregou para ela os presentes em nome do imenso grupo de teatro.
Registramos as presenças de Janete; Cristóvão Spala e família; Elaine, Dirª do Pré Escolar; Orlandinho; Presidente da AFL
José Maria Mângia e esposa, sônia Sota, Luzia Abreu, Fernando Abreu e esposa, Dr. José Marconde Filho; o novo poeta Willian Raposo; Calos Quintan (Nano); Euclymária e o grande Garte.

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